terça-feira, junho 17, 2003

É rara a referência à educação para os media nos próprios media. Hoje, aparece no Público, sob a forma de carta de um leitor:

Educar para Os "Media"!

Quero deste modo enaltecer, mas também completar, a excelente reflexão: "Editores da atenção" (PÚBLICO 03-06-02). Sem dúvida, nas sociedades industrializadas, o excedente de produtos não satisfaz a escassa atenção que se dedica aos indivíduos. Os "media" conseguiram fazê-lo, na medida em que estes se revêem na projecção das essências humanas editadas. Assim, criaram uma "agenda" do nosso consumo. Porém, o diagnóstico da patologia "per se" é insuficiente e urge oferecer algum receituário.

Numa sociedade de informação, não será relevante uma educação para a mediatização da mesma? Ao lado da língua francesa ou inglesa, o currículo escolar pode e deve desenvolver uma alfabetização para os "media". Um lugar onde os nossos filhos aprendem a distinguir entre a notícia e o sensacionalismo da forma como é difundida, assim como a verdade e o espectáculo em torno dela. Todavia, sendo a família o centro emocional das crianças, que melhor lugar encontramos para a desalienação que provém dos "media". Destarte, os pais devem chamar a si a responsabilidade de denunciar a perversão dos sentimentos explorados até à exaustão. Como modelos, positiva ou negativamente, serão exemplo do consumo dessa venenosa "sedução".

A educação para os "media" também se aprende no lar. Mas será que nós adultos lemos ou vemos aquilo que consumimos sob um olhar crítico? Estaremos à mercê de um destino que está traçado para manipular as nossas opiniões e conduzir-nos a comportamentos "programados"? Finalmente, porque acredito que os "media" são instrumentos civilizacionais relevantes, também devem ser incluídos na estratégia de educação para a actual cultura comunicativa. Enquanto agentes de socialização, as suas grelhas de programação devem ser sensíveis à instrução para o consumo dos seus conteúdos - à semelhança de alguns editoriais do José Manuel Fernandes. E, em atalho de foice, porque não envolver a Igreja enquanto escola para a vida? Não fora São Paulo quem advertiu para necessidade de não nos deixarmos modelar sem exercer reflexividade? Não é ela a força motora para a transformação das nossas mentalidades? Enfim... cada vez mais carecemos de uma educação para um exercício crítico continuamente renovado.

Simão Daniel Fonseca da Silva

Póvoa de Santo Adrião

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