domingo, fevereiro 03, 2008

Alice Vieira sobre a cópia nas escolas

" (...) Hoje em dia são os professores que ensinam os alunos a copiar. Que os incentivam a copiar.
Hoje em dia a cópia está institucionalizada
Hoje em dia os alunos nem entendem que possa ser de outra maneira.
Chamem-lhe o que quiserem "descarregar", "fazer download", o que quiserem: nunca deixará de ser uma cópia.
Eu chego a uma escola e ouço "Os alunos fizeram muitos trabalhos a seu respeito". E encontro 50, 100, 200 trabalhos rigorosamente iguais; iguais, por sua vez, aos que já tinha encontrado na escola anterior, e na outra, e na outra, com os mesmos erros (nem a Wikipedia nem o Google são infalíveis…), com as mesmas desactualizações, com palavras difíceis de que nenhum deles sabe sequer o significado, etc..
Os meninos são ensinados a mexer num computador, a carregar nos botõezinhos necessários para que o texto apareça - mas depois ninguém lhes ensina que isso não basta, e que trabalhar e pesquisar não é isso. Isso é, pura e simplesmente, copiar. E, como se dizia no meu tempo, copiar não vale.
É claro que, quando lhes tento explicar isto, eles nem entendem de que é que eu estou a falar.
O pior é que os professores, quase todos eles muito jovens, também não. (...)"
in Jornal de Notícias, 3.Fev. 2008

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5 comentários:

Luís Pereira disse...

Quatro perguntas em tom provocatório:

_Antes da generalização do acesso à Internet, as fontes utilizadas para pesquisa na escola eram assim tão diversificadas?

_Os “professores novos” têm a obrigação de ser mais competentes para ensinar a assimilar e utilizar a informação encontrada?

_Se algum autor encontra erros a seu respeito, por exemplo na Wikipédia, porque não os corrige, então?

Anónimo disse...

A miña opinión:
1. Non
2. Si
3. Porque ninguén llo paga e eles mesmos son fonte alternativa.

Luís Pereira disse...

No meu comentário, fiz alusão a quatro perguntas, mas apenas coloquei três - lapsus linguae.

Gostei da resposta 3. de jose.

Anónimo disse...

Por isto mesmo que o ensino da filosofia deveria assumir um papel mais importante nos currículos. Contudo, não é o que se verifica, bem pelo contrário... Mas falo de um ensino com filosofia e não apenas tornar o ensino da filosofia mais uma posssibilidade para os alunos aprenderem a fazer "copy & past" em trabalhecos enfadonhos sobre nomes da história da filosofia.
Aprender a pensar é urgente, até para que se possa fazer a distinção entre informação e conhecimento.

Sandra Cristina Silva

José Brito,sj disse...

Quanto às perguntas do Luís Pereira, respondo à segunda:
cada vez mais penso que será essa uma das principais missões dos professores: Ajudar a gerir informação.

penso que isto implicará professores mais comprometidos, mais conscientes de que valores querem transmitir, menos neutros... alguns dirão que este pode ser um caminho perigoso eu, sem certezas absolutas, desconfio que recusar isto pode significar renunciar a tarefa educativa.

- quanto ao uso da internet:
na minha curta experiência como professor tive a oportunidade de escrever num trabalho de um aluno: «obrigado, também tenho acesso à wikipédia».
os trabalhos copiados são também um grande problema nas faculdades onde se formam os professores... alguns docentes até se recusam a usar este método de avaliação. Desconfio que com Bolonha isso será cada vez menos possível. Mas penso que é mesmo importante que se seja absolutamente intransigente com esse tipo de métodos. Nesse sentido a experiência relatada por Alice vieira é um mau sintoma...