domingo, julho 31, 2011

"Aqui há gato!..." ou o exercício da crítica

A secção de "Cartas à Drectora", do jornal Público, traz hoje uma mensagem assinada pela leitora Lucinda Mata, de Carcavelos, que é bem ilustrativa de várias coisas que nem sempre estes contributos dos leitores possuem: clareza, argumentação, elevação, exercício da crítica esclarecida. Vale a pena, pois, deixá-la, como exemplo (não sendo relevante aqui, em primeiro lugar, a matéria que trata ou a posição da leitora sobre essa matéria):

"O senhor ministro Vítor Gaspar
tem um discurso que me agrada
particularmente. É claro, directo,
conciso e apela ao raciocínio para
conseguir a adesão, de quem o
ouve, às propostas que apresenta.
Acontece que o exercício do
raciocínio não pode limitar-se a
seguir o do senhor ministro... Pode
e deve ser aplicado a áreas para
as quais o senhor ministro o não
solicitou. Foi isso que fiz e cheguei
a uma conclusão que me parece
surpreendente.
De facto, o senhor ministro
Vítor Gaspar, na resposta a uma
interpelação que lhe foi feita na
Assembleia da República, disse
que a não aplicação do imposto
extraordinário a uma parte dos
cidadãos portugueses resultou da
sua preocupação de que uma tal
medida pudesse ser vista como
um desincentivo ao investimento,
o que prejudicaria a economia do
país. Ora, a aplicação da referida
medida ao conjunto dos cidadãos
pagantes de IRS vai conduzir a uma
diminuição do poder de compra e
diminuição do consumo, seguida
de dificuldades para as empresas
e aumento do desemprego,
lesando gravemente a economia
portuguesa. Dizem os economistas,
e eu acho que têm razão. Ou
seja, em relação a esta matéria, o
discurso do senhor ministro revela
que o imposto extraordinário
é aplicado, simultaneamente,
de modo que, por um lado, visa
proteger a economia e, por outro,
conduz ao seu afundamento.
O discurso do senhor ministro,
nesta questão, não é aceitável
por ser contraditório, e mostra
que o motivo da não aplicação
deste imposto a um determinado
subconjunto de cidadãos
portugueses não pode ser o que
explicitou. Este raciocínio permite-me
sugerir que o fundamento
para a definição do universo a que
o senhor ministro Vítor Gaspar
decidiu aplicar, ou não aplicar,
o imposto extraordinário (?) não
tem fundamento num raciocínio
lógico e resulta, provavelmente, de
uma sua posição ideológica. Isto é,
temos aqui, como diz o povo, “gato
escondido com o rabo de fora”!
E isto não fica mesmo nada
bem ao senhor ministro. Se nos
lembrarmos que se trata da mesma
pessoa que usou, como arma de
arremesso à oposição, ainda que à
falta de argumentos substanciais, a
respectiva opção ideológica, pode
mesmo tornar-se chocante. (...)".

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