sexta-feira, agosto 26, 2011

Com jornais é como com médicos

A crónica de Ferreira Fernandes, no DN de hoje, intitula-se "Era tão bom aprender a lição" e constitui um excelente motivo e conteúdo de literacia relativamente aos media. Começa assim:

"Houve em tempos uma campanha, "Ler jornais é saber mais", que dizia o essencial: jornais. No plural. Com jornais é como com médicos. Ouvir uma segunda e terceira opinião cura-nos da estupidez, com jornais, tal como com médicos pode salvar-nos a vida. Na semana passada, a revista francesa L'Express revelava que o relatório médico de Nafissatou Diallo, a mulher que acusava Strauss-Kahn, dizia: "Causa dos ferimentos: violação". Ora, esta semana, o procurador de Nova Iorque que investigava o caso nem o levou a tribunal, por total falta de provas. Então não havia pelo menos a "prova" do relatório médico para se discutir em tribunal? (...)" [ler o restante do texto aqui].
A crónica continua, explicando que aquilo que parecia um facto inquestionável era, afinal uma interpretação, ou, mais rigorosamente uma versão provavelmente interessada. "A certeza de L'Express vinha-lhe de não saber do que estava a falar. Acontece tanto", observava ainda Ferreira Fernandes.
De onde a tal "lição" a tirar - é preciso consultar e confrontar mais de uma fonte. Esta é uma dimensão fundamental. Mas não suficiente. Um espírito informado e crítico deveria ser capaz de ver logo que a informação de l'Express estava inquinada, porque não resultava de qualquer investigação policial ou judicial, mas da versão dada por uma das partes. E isso deveria ser dito, para calibrar a informação com o grau de confiança que a ela se deveria atribuir.
A esmagadora maioria dos leitores pode não dispor de condições para confrontar várias fontes. Mas deveria possuir a capacidade e o conhecimento para aquilatar da fiabilidade e grau de confiança de uma informação.

domingo, agosto 21, 2011

A UNESCO e a literacia da informação e dos media


Sheila Webber,animadora do Information Literacy Weblog, fez, nos últimos dias, um apanhado dos debates que, por iniciativa da UNESCO ou em torno dos documentos desta organização, têm tido lugar nos últimos meses, no sentido de se conseguir um conjunto de indicadores sobre MIL - Media em Information Literacy.
Os três posts dedicados ao assunto têm o interesse não apenas de sumariar algumas das questões sensíveis dos debates em curso, como também indicar alguns dos documentos que têm servido para apoiar esses mesmos debates.
São estes os posts de Sheila Webber, uma especialista de Literacia Informativa, mas com uma perspectiva aberta e ecuménica, com quem temos certamente muito a aprender:
Complementarmente, sugiro igualmente a leitura destes posts recentes:

quarta-feira, agosto 17, 2011

Programa "Jornal e Educação" faz encontro na Bahía

Perto de 30 animadores de projectos que utlizam o jornal na educação encontra-se a partir de hoje, e até sexta-feira, na cidade brasileira de Salvador da Bahía, para intercambiarem experiências.
Arranca hoje, prologando-se até sexta-feira.
Este Encontro Nacional de Coordenadores do Programa Jornal e Educação (PJE) da Associação Nacional de Jornais tem a parceria do jornal A Tarde, anfitrião do evento.
Além da exposição de alguns coordenadores, será realizada uma tarde temática sobre "Políticas Públicas" com representantes da área de Livro e Leitura do Minc (Ministério da Cultura), da SEFIC (Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura do Minc), e do Mais Educação do MEC (Ministério da Educação). As palestras serão seguidas de debate. A Educare, empresa que trabalha com projetos da Lei Rouanet, também estará presente.Para encerrar o evento, no dia 19, haverá uma palestra sobre "Cultura Digital" com Nelson Pretto, da UFBA (Universidade Federal da Bahia), e Priscila Gonzales, da Fundação Telefônica.
Para a jornalista Cristiane Parente, coordenadora do PJE, o encontro é um momento de aprendizagem colaborativa, em que são trocados materiais, dicas, experiências e afetos, e os participantes podem reafirmar o compromisso com a formação de leitores-cidadãos. "É gratificante saber que nosso trabalho tem contribuído na formação não só de mais leitores, mas de mais leitores e autores críticos, autônomos; é bom saber que muitos de nossos coordenadores espalhados pelo Brasil estão fazendo a diferença na vida de estudantes e escolas", afirmou.

(Informação colhida no site do PJE)

terça-feira, agosto 16, 2011

Media Lab ganha o "World Young Reader Prize"


O projecto Media Lab, iniciativa dos diários portugueses Jornal de Notícias e Diário de Notícias, que visa envolver jovens e crianças no mundo das notícias, venceu o prémio "World Young Reader Prize 2011" na categoria "Making the News" da "World Association of Newspapers".
O prémio, dado pela Associação Internacional de Jornais, reconhece o melhor projecto ou actividade na área do desenvolvimento da leitura de jornais entre os mais jovens.
Segundo o júri, o Media Lab "é um excelente modelo a seguir por outros jornais e que desenvolve a consciência da importância das notícias. A simplicidade e a escala deste projecto para desenvolver a literacia para os média são assinaláveis e o objectivo de chegar ao número de 50 mil estudantes a participar no projecto está muito perto de ser conseguido." 
(...)
Fonte: JN. Para continuar a ler: AQUI.

terça-feira, agosto 09, 2011

Informação e comunicação - qual a mais importante?


A propósito do meu post anterior "O nome e a coisa", podemos ir um pouco mais longe na reflexão, deixando (apenas aparentemente) de lado as questões de nomenclaturas e indo mais à substância do assunto. Recorro à ajuda de um livrinho de Dominique Wolton, de 2009, intitulado « Informer n’est pas communiquer » (Paris : CNRS Éditions).
A pp. 23-24, este sociólogo francês propõe o sumário daquilo que chama uma “aparentemente modesta” teoria da comunicação que resume nas cinco etapas seguintes:
Primeiro. A comunicação é inerente á condição humana. Não há vida pessoal e colectiva sem vontade de falar, comunicar e intercambiar, tanto à escala individual como colectiva. Viver é comunicar.
Segundo. Os seres humanos desejam comunicar por três razões: partilhar, convencer e seduzir. E frequentemente pelas três razões ao mesmo tempo, mesmo que isso não seja reivindicado.
Terceiro. A comunicação leva à incomunicação. O receptor nem sempre está em sintonia ou não está de acordo.
Quarto. Abre-se uma fase de negociação em que os protagonistas, mais ou menos livre e igualitariamente, negociam para encontrar um ponto de acordo.
Quinto. O resultado, se positivo, chama-se coabitação, com as suas forças e as suas debilidades. A negociação e a coabitação constituem um procedimento para evitar a incomunicação e respectivas consequências, frequentemente belicosas".
Wolton considera que, pelo menos nos dois séculos passados, informação e comunicação eram como que sinónimo e constituíam-se como parceiras da batalha pela liberdade de expressão, da liberdade política e dos direitos humanos. A performatividade técnica permitiu a proliferação de mensagens e a sobreposição da informação à comunicação. Mais: foi fazendo caminho a ideia de que existe uma relação de continuidade entre informação e comunicação e que a informação leva (como que automaticamente) à comunicação, quando os riscos da incomunicação são, paradoxalmente, cada vez mais fortes. O que leva o nosso autor a defender a ideia de que os riscos dos mal-entendidos e dos contenciosos, tanto no plano das relações inter-individuais e grupais, como interculturais e globais fazem da aposta na comunicação como uma das questões “da paz ou da guerra”, no século XXI. O que se conseguirá pela aprendizagem dos procedimentos que podem apontar e favorecer a comunicação: negociar e coabitar, conceitos-chave da sua teoria.
Wolton explicita melhor a sua ideia neste passo:
“ Esta incomunicação estrutural necessita evidentemente da igualdade de protagonistas, sob pena de não haver negociação, o que faz da comunicação dos nossos dias uma realidade indissociável da cultura democrática e um processo bastante mais amplo do que a simples expressão. Não existe, portanto, comunicação sem um mínimo de tempo, de respeito e de confiança mútua, fazendo da tolerância uma das condições estruturais de qualquer processo de comunicação”.
Poderia parecer, deste posicionamento, que a informação seria, afinal, instrumental à comunicação. Não é por aí que vai Wolton. Ele entende que não é correcto hierarquizar mensagem e relação, informação e comunicação. Importa, isso sim, pensá-las conjuntamente e relacionalmente.  O desfio está aqui:  a vitória da informação, na modernidade, obriga-nos a repensar o estatuto da comunicação.