segunda-feira, janeiro 09, 2012

Literacia Mediática: para onde vamos?


Que irá o Governo e a Assembleia da República e que iremos todos nós fazer da Recomendação sobre Educação para a Literacia Mediática, que o Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou em Dezembro último?
Um facto para já a reter foi o silêncio de chumbo que os media impuseram ao assunto, quer aquando da aprovação, no plenário do CNE de 7 de Dezembro, quer aquando da publicação da versão final do parecer, no dia 30 seguinte. A conclusão é óbvia: o facto de o conjunto dos parceiros educativos tomarem uma posição em que recomendam uma maior atenção das instâncias educativas ao ecossistema informativo e mediático não motiva os media nem os irrita nem lhes diz respeito. Em suma, não interessa - nem aos media sensacionalistas, que vivem da futilidade, nem aos que se dizem de qualidade. Quem divulgou a notícia foi um ou outro blog, algum departamento oficial, algum sindicato e ponto final. Admitamos que não foi desinteresse, mas antes distração (deles) ou incapacidade (nossa) de lhes ‘vender eficazmente o produto’.
Mas será que nos destinatários primeiros da Recomendação – o Parlamento e o Ministério da Educação - haverá mais receptividade? É cedo para avaliar. Em todo o caso, o que se possa fazer da Recomendação não depende apenas do poder político.
O Governo anterior apostou essencialmente na tecnologia e na massificação dos computadores e do acesso à Internet, descurando o que do ponto de vista educacional mais necessário era: saber procurar e validar as ‘toneladas’ de informação disponível, mediante a ponderação da sua pertinência e fiabilidade e saber lidar criticamente com o universo mediático e digital. O actual Governo pôs em marcha alterações curriculares que, segundo o CNE, “vão no sentido da redução de custos, de professores, de disciplinas, de áreas curriculares não disciplinares e de aprendizagens transversais”, o que leva o Conselho a “chamar a atenção para o facto de haver hoje aprendizagens fundamentais que requerem uma abordagem mais reflectida e aberta do currículo”.
As artes, o pensamento e as culturas, a comunicação e os media parecem afastadas das preocupações dominantes. A pergunta que se coloca é esta: serão essas matérias secundárias, na formação para a vida e para a invenção de caminhos que permitam enfrentar eficazmente a crise que vivemos?

(Texto publicado hoje no diário digital da RR, Página 1)

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