domingo, novembro 25, 2012

Barcelona recebe I Jornada de la Sección de Estudios de Audiencia y Recepción de la Asociación Española de Investigación de la Comunicación (AE-IC)


Patrícia Silveira, estudante de doutoramento em Ciências da Comunicação (especialização em Educação para os Media) na Universidade do Minho e que está, desde setembro passado, a realizar um período de estudos na Universidade Autónoma de Barcelona, envia-nos este texto a partir da sua participação nas Jornadas "Audiencias Juveniles: recepción, usos y hábitos mediáticos" que tiveram lugar no passado dia 22, na Universidade Pompeu Fabra, Barcelona. 

Na passada quinta-feira, dia 22 de Novembro, teve lugar, na Universidade Pompeu Fabra, em Barcelona, a I Jornada de la Sección de Estudios de Audiencia y Recepción de la Asociación Española de Investigación de la Comunicación (AE-IC). Com a presença de especialistas e investigadores de áreas diversas, entre as quais, as ciências da comunicação, a sociologia e a psicologia, a jornada teve como objetivos principais analisar e partilhar investigações empíricas e reflexões teórico-metodológicas sobre a relação entre os jovens e os meios de comunicação, em especial, as novas tecnologias. 

Entre os comunicadores, esteve Javier Callejo, sociólogo e reconhecido investigador e autor de artigos e livros sobre audiências e modos de consumo. Com uma apresentação intitulada Observaciones sobre la Juventud del Sistema de Comunicación Mediada, o diretor do Departamento de Investigação do  Centro de Investigações Sociológicas, da Universidade de Oviedo, falou da importância dos meios de comunicação para a vida dos jovens com idades compreendidas entre os 10 e os 15 anos. O autor considera que, atualmente, quase todos os jovens têm acesso à internet e ao computador, sendo que este envolvimento, segundo refere, pode ser compreendido em termos de análise dos tempos, usos ou tipos de media. Na sua opinião, a compreensão da relação dos jovens com um determinado tipo de media, só é possível se, antes, se tiver estudado as ligações estabelecidas com o panorama geral de meios à disposição. No remate da apresentação, embora reconheça que a audiência não é somente produto do sistema de comunicação, Callejo sublinhou que “tudo o que sabemos, sabemos através da comunicação mediada”, já que todos fazemos parte do “fantasma das audiências”.

Numa outra apresentação, intitulada Jóvenes y Competencia Mediatica, Joan Ferrés i Prats, especialista em comunicação e educação, apresentou os resultados de um estudo sobre a avaliação da competência mediática de jovens e adultos. Tendo recorrido à aplicação de 6000 questionários (por género e níveis de estudo), 31 entrevistas em profundidade e 28 grupos de discussão, o autor categoriza um conjunto de dimensões, de modo a explicar e agrupar alguns dos resultados obtidos. Assim, o investigador fala em:
  • Dimensão tecnológica: foi a que obteve resultados mais positivos. Observou-se um nível superior dos jovens, comparativamente ao resto da população. Quanto ao género, verificou-se que, em termos globais, os resultados se mostraram mais favoráveis para os homens.
  • Dimensão estética: sendo fundamental do ponto de vista da educação para os media, verificou-se que obteve resultados negativos, quando comparada com outras dimensões. Em geral, houve uma avaliação deficiente acerca da forma como “as coisas são contadas, nos media”, como refere o investigador.
  • Dimensão das linguagens: tal como a dimensão anterior, obteve alguns dos piores resultados. O autor fala da existência de um total desconhecimento e incapacidade para utilizar os códigos audiovisuais, com o objetivo de transmitir algo.
  • Dimensão da receção e interação: verificou-se que 94,3% dos inquiridos tem motivos de queixa dos media, embora não conheça os meios ou instituições disponíveis para receber essas mesmas queixas.
  • Dimensão de produção e difusão: o autor concluiu que existe incapacidade para estruturar um plano de trabalho coerente.
  • Dimensão ideológica: observou-se incapacidade para explicar o porquê e o como. 
  • Dimensão participativa: sendo fundamental para o âmbito de uma participação ativa e consciente nos media, uma das questões analisadas foi, por exemplo, “O que procuras, na TV?”.

Tendo sido o único estudo apresentado sobre crianças e meios, o trabalho de Lucrezia Crescenzi, intitulado Accesso y Recepción de Contenidos Audiovisuales en la Primera Infancia. Una Investigación sobre el Target Ignorado, chamou a atenção para a importância de investigar o envolvimento dos media e as crianças em idade pré-escolar. Com base nas correntes teóricas da psicologia, o trabalho da investigadora do Grupo de Investigação Laboratório de Meios Interativos, da Universidade de Barcelona, verificou que as crianças até aos 6 anos de idade, passam muitas horas em frente ao televisor, embora praticamente não sejam olhadas como target de interesse, pelas empresas audiovisuais. Com a preocupação de estabelecer etapas no desenvolvimento infantil, tendo em conta as capacidades cognitivas e fisiológicas para compreender os conteúdos audioviduais, um dos resultados obtidos pela autora demonstrou que, até aos 2 anos de idade, a criança não é capaz de alcançar o conteúdo audiovisual. 
Compreendemos que o objetivo da autora tenha sido avaliar, apenas, as capacidades cognitivas presentes na leitura das mensagens, no entanto, gostaríamos de deixar uma pequena nota acerca de alguns aspetos para os quais este, ou outros estudos, poderiam ser alargados. Seria interessante, no âmbito de investigações que se propõem analisar as relações entre crianças tão pequenas e os media, tomar em consideração outros elementos de que dependem os significados e as perceções construídas, não encerrando a capacidade para compreender os conteúdos audiovisuais, a aspetos meramente cognitivos ou fisiológicos. Trata-se, mais do que isso, da presença de elementos emocionais e afetivos, assim como de questões ligadas à própria estruturação dos tempos sociais da criança, ou ao ambiente familiar que, nestas idades, é o primeiro grupo de referência na sua formação e um importante mediador em termos, não só de acesso, como também, de uso dos media. 

Patrícia Silveira
25/11/2012


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