domingo, dezembro 30, 2012

'Nativos Digitais' - questionando o conceito através de um exemplo


Até ao tempo de Galileu (em boa verdade muito para além dele), a impressão de que era a Terra que andava à volta do Sol tornou-se teoria e doutrina e foi um berbicacho convencer muita gente de que aquilo que parece, muitas vezes, não é. O mesmo com as TIC, os computadores e a web.

"Tenho lá um fedelho em casa que, com quatro anos, sabe mil vezes mais do que a avó". Ou: "Acho quase impossível o que os miúdos hoje fazem na Internet". Ou ainda: "Para fazer aquilo que faz tem de ser muito inteligente". Quantas vezes não ouvimos frases do tipo destas para dar conta da facilidade e à-vontade com que os mais pequenos lidam com as ferramentas informáticas e as TIC.
Mark Prensky deu nome à coisa e começou, há pouco mais de dez anos, a chamar a estes miúdos que nasceram com a Internet "nativos digitais" - e, àqueles que tiveram de pedalar para entrar e acompanhar a mudança neste novo universo, "imigrantes digitais" (Prensky, 2001). A partir daí, com toda a gente arrumada no seu lugar, a ideia feita fez o seu caminho e hoje tornou-se senso comum, nomeadamente entre docentes, jornalistas e políticos.
É claro que alguma coisa há de verdade numa ideia feita. É aquele q.b. que a torna não apenas credível mas também convincente e incontornável e que acaba por fazer moda. Acresce que o próprio autor da expressão ele próprio a tomou, recentemente, sobretudo como uma metáfora para chamar a atenção para um problema. Mas, de facto, no caso dos "nativos digitais", nada é mais problemático e até ardiloso, já que, nas versões mais 'fundamentalistas', os miúdos nascidos e crescidos neste novo caldo cultural não só não precisariam de ser ensinados, mas passariam, eles próprios, a ser os professores. A eles é que caberiam, por assim dizer, direitos de cidadania. Os imigrantes (digitais), esses coitados, estariam um pouco como o peixe fora da água, fora do seu ambiente natural, como que por empréstimo ou por favor, e sempre em situação de carência e de deficit.
O discurso subjacente a um recente vídeo da Microsoft Portugal para demonstrar a alegada simplicidade do Windows 8 é disso eloquente exemplo. Por alguma razão ele se tornou um fenómeno 'viral', atingindo, em menos de duas semanas, cerca de 330 mil visitas e perto de 400 mil na sua versão em inglês (confrontar com este outro vídeo com uma explicação mais convencional).
Como é lógico, ninguém presta grande atenção às demonstrações das duas crianças, porque o objectivo da mensagem é outro: se um 'puto' de nove ou dez anos faz aquilo, um crescido não será também capaz de o fazer? Mais do que isso: o documento sugere subliminarmente como que um efeito de osmose entre o universo infantil e o do novo sistema operativo (através da tactilidade dos ecrãs, por exemplo).
Se esta familiaridade, à-vontade e saber-fazer resumissem o essencial do que se pode entender por literacia informativa e digital estaria o problema resolvido. Mas, infeliz ou felizmente, assim não é. E o desafio mais importante, hoje em dia, talvez resida em tomar aquilo que é o senso comum como motivo de interrogação. Como de resto algumas investigações começam a pôr em realce (cf. The Digital Native Debate in Higher Education: A Comparative Analysis of
Recent Literature de Erika E. Smith, 2012). Aquilo que parecia uma resposta a uma nova situação, deve converter-se numa pergunta. Aquilo que parecia um ponto de chegada revela-se, afinal, um ponto de partida para um itinerário de estudo e de acção que está ainda por explorar.

Marc Prensky publicou este ano dois livros: "Brain Gain: Technology and the Quest for Digital Wisdom" (Palgrave Macmillan) e "From Digital Natives to Digital Wisdom: Hopeful Essays for 21st Century Learning" (Corwin).

sexta-feira, dezembro 28, 2012

Literacia mediática associada aos princípios do jornalismo


«Os princípios do jornalismo nascem da função que a informação representa na vida das pessoas. Neste sentido, são uma declaração de direitos dos cidadãos, ao mesmo tempo que uma declaração de responsabilidades dos jornalistas. Na medida, porém, em que a difusão de informação própria e do comentário a assuntos de actualidade e às opiniões de outros aumenta, crescem também as responsabilidades éticas dos que intervêm no processo, do lado da cidadania. O conhecimento e exercício destes direitos e responsabilidades devem integrar a formação não apenas dos jornalistas mas também dos cidadãos, no quadro mais vasto e desejável de uma literacia mediática que proporcione o uso crítico, esclarecido e criativo da informação jornalística e dos media».

Este é o teor do Princípio nº 11 e derradeiro do documento "Para Uma Carta de Princípios do Jornalismo na Era da Internet", recentemente apresentado em Lisboa. É talvez a primeira vez que, entre nós, se estabelece, de modo claro e formal, a relação entre as responsabilidades éticas do jornalismo e "uma literacia mediática que proporcione o uso crítico, esclarecido e criativo da informação jornalística e dos media».

Recomenda-se uma leitura atenta do documento (AQUI). Transcreve-se, de seguida, a súmula de cada um dos 11 pontos:
  1. A primeira obrigação do jornalismo é a busca da verdade e a sua publicitação.
  2. O jornalismo deve manter-se leal aos cidadãos, estimulando o debate e a construção de opinião
  3. A essência do jornalismo assenta na verificação da informação e no confronto de fontes e de versões
  4. O jornalismo deve escrutinar os diferentes poderes. Aqueles que o exercem devem ser independentes em relação às pessoas, organizações e acontecimentos que cobrem
  5. O jornalismo deve tornar interessante o que é relevante e procurar no que é interessante ou mobiliza a atenção dos cidadãos o que é importante e significativo
  6. A produção jornalística deve seguir princípios de rigor, isenção, clareza, abrangência e proporcionalidade, e deve empenhar-se em dar voz e visibilidade a cidadãos, grupos e comunidades mais esquecidas
  7. Os jornalistas devem ser livres de seguir a sua consciência
  8. O jornalismo deve ser transparente e favorecer o debate público das suas opções e práticas e o escrutínio das ligações, interesses e poderes que o suportam
  9. O jornalismo deve adaptar-se às diferentes plataformas informativas e interagir com a diversidade de actores presentes no ambiente comunicacional, integrando as suas vozes no processo de produção profissional de narrativas noticiosas e de opinião
  10. Inovações empresariais e tecnológicas no ecossistema informativo devem ser feitas com respeito por padrões de exigência profissional e no quadro ético e deontológico em vigor numa imprensa livre e democrática
  11. Os cidadãos têm direitos e responsabilidades, no que diz respeito à informação noticiosa.

sábado, dezembro 15, 2012

Educação para a cidadania - Linhas orientadoras


Ministério da Educação e Ciência, Direção-Geral da Educação (dezembro de 2012):
Educação para a cidadania - Linhas orientadoras
A Educação para os Media
, que pretende incentivar os alunos a utilizar e decifrar os meios de comunicação, nomeadamente o acesso e utilização das tecnologias de informação e comunicação, visando a adoção de comportamentos e atitudes adequados a uma utilização crítica e segura da Internet e das redes sociais.

sábado, dezembro 01, 2012

Congresso 'Literacia, Media e Cidadania' - Chamada de Comunicações


Está aberto o período para submissão de propostas de comunicações ao 2º Congresso Nacional ‘Literacia, Media e Cidadania’ a ter lugar nos dias 10 e 11 de maio de 2013 no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa.
As mudanças que estão a ocorrer no campo mediático, nas instituições educativas e no mercado de trabalho, agravadas pelo recrudescimento da crise económica e a deterioração da qualidade de vida, tornam a Literacia para os Media uma via e uma estratégia que podem dar contributos relevantes na vida das pessoas – e não apenas das crianças e jovens – em prol de uma cidadania mais qualificada e de uma sociedade mais inclusiva.

Entendemos por Literacia para os Media “a capacidade de aceder aos media, de compreender e avaliar de modo crítico os diferentes aspectos dos media e dos seus conteúdos e de criar comunicações em diversos contextos” (Recomendação da Comissão Europeia de 20 de agosto de 2009).

Tendo este conceito como base, convidamos todos aqueles que se encontram envolvidos em projectos e iniciativas que procuram tomar os media e as novas plataformas e redes digitais como tema de estudo, recurso e campo de intervenção nos âmbitos da educação, da saúde, da cultura, da animação sócio-cultural, da inclusão social, da comunicação e do jornalismo, a submeter propostas de comunicação até ao dia 31 de janeiro de 2012 para o email congressoLMC2013@gmail.pt

As propostas de comunicação podem versar sobre diferentes tópicos, nomeadamente:

- Análise e usos dos media: Internet, jogos vídeo, cinema, telemóveis, imprensa, rádio, televisão, publicidade, música...
- Novos media, redes sociais e literacia
- Literacia mediática e compreensão do mundo atual;
- Literacia da informação e do jornalismo;
- Literacia fílmica;
- Abordagens críticas da imagem e da publicidade;
- Jornalismo escolar e meios de comunicação na escola;
- Cidadania, participação e educação para os media;
- O currículo e a educação para os media;
- Inclusão digital e educação para os media;
- Políticas tecnológicas da educação e literacia para os media;
- Bibliotecas, mediatecas e literacia mediática;
- Educação para os media e contextos específicos: seniores, instituições de saúde, IPSS, autarquias;
- Políticas públicas de educação para os media.

As comunicações podem incidir sobre resultados de investigações científicas, relatos críticos de intervenções, apresentação de projetos e iniciativas de Literacia para os Media.
Dada a vastidão das problemáticas cobertas por cada um dos conceitos que fazem o tema deste congresso - "literacia, media e cidadania" - serão acolhidas preferencialmente as propostas que articulem os três conceitos.

Os resumos das comunicações devem ser enviados até 31 de Janeiro para o endereço congressolmc2013@gmail.pt